sexta-feira, 27 de março de 2009

ALCOOL E ESPORTE NAO COMBINA

Renato Silva no Botafogo: recuperação no time alvinegro - Foto: Cezar Loureiro/O Globo

RIO - Para retomar a carreira profissional na dose certa, sem o álcool e seus derivados - noitadas, mulheres, queda no rendimento, riscos à saúde -, é preciso levar na ponta da faca o lema do Alcoólicos Anônimos: "Evite o primeiro gole". A recuperação requer derrotar a abstinência - tremedeira comum nos alcoólatras -, driblar os falsos amigos e trocar os bares por programas que, do início ao fim, não o levem ao drinque.

- Todo dia é uma partida, uma vitória. Não é preciso deixar as amizades, mas mudar a vida - afirma Dil Silva, membro dos Alcoólicos Anônimos, em abstinência de 36 anos.

Um exemplo de recuperação no futebol atual é o zagueiro Renato Silva, do Botafogo. Nascido em Colina, Tocantins, sentiu na pele os efeitos do vício. Contraiu Hepatite C. Vitória do álcool nas primeiras batalhas. Quando jogador do Flamengo, em 2005, colecionou atrasos e até dormiu na maca de massagem no vestiário, sendo até multado.

" Eram muitas noitadas "

- Eram muitas noitadas. O vício está superado. Foi difícil. Tive problemas até mesmo da saúde. Quando a ficha caiu, estava ainda no Flamengo. De lá para cá, nunca mais bebi. Sou uma pessoa completamente do bem - afirma ( clique aqui e ouça a entrevista com o jogador ).

No período de abstinência, Renato Silva lembra ter cometido o erro de trocar a bebida alcoólica pela maconha. Até que, em 2007, com a camisa do Fluminense, foi flagrado em exame antidoping, o que lhe rendeu mais problemas.

" O negócio do doping foi a troca do vício "

- Sofri, no começo foi difícil. Mas quando parava para pensar, quando dava vontade, lembrava da família, das pessoas que ficariam tristes. O negócio do doping foi a troca do vício.

Uma segunda família, como mesmo denomina, é fundamental para a recuperação. A família "Srour" - José Carlos, Rodrigo, Solange e Vanessa - faz a vigilância, dá todo o aparato para que Renato Silva negue os convites para nova expedição noturna. Ele passa, assim, a mudar os hábitos. Vai a shows, com hora marcada para chegar e ir embora. Nos restaurantes, almoço e jantar, nada de "desce uma ou traz a saideira".

- Hoje, vou ao teatro. Restaurante é para sentar, almoçar, jantar. Vou ao show de duas horas. Chego às 21h, saio às 23h. Antes, saía às 9h e chegava às 5h e o treino era ruim. Tenho amigos e amigos de farra. Isso sempre vai ter. Esses não dá para contar nos momentos difíceis - diz.

Atualmente, Renato Silva faz visitas ao Narcóticos Anônimos (NA) e à psicóloga da Clínica Jorge Jaber. Celebra o reencontro com o profissionalismo, que lhe rende a camisa 3 do Botafogo e a confiança dos companheiros. Feliz, nem conta mais os dias sem beber, investe o dinheiro para o bem próprio e deixa o conselho aos jovens:

- É uma bola de neve. Vem primeira saída, a primeira garota. Ela gosta de um negócio, você entra na onda e quando vê está numa vida que não é a sua. Você gasta muito dinheiro. Hoje, tenho bens, ajudo a família. É preciso ser atento - aconselha.

Está provado, futebol e bebida não combinam.

AA abre as portas para ajudar na recuperação

As portas dos Alcoólicos Anônimos (AA) estão abertas (tel: 2253-9283). Há a garantia de discrição e o envolvimento fará o indivíduo sentir-se mais um na multidão, largando a negação - característica do alcoolismo.

" É uma doença contagiante, não contagiosa "

- É uma doença contagiante, não contagiosa. No convívio, você pega os hábitos. A saída é não pensar no amanhã. Hoje eu não bebo... - diz Jorge M, há 16 anos sem beber.

É o outro lema: "Só por hoje".

quarta-feira, 11 de março de 2009

ALCOOLISMO NO TRABALHO

Sabe-se que, no Brasil, o alcoolismo é o terceiro motivo para absenteísmo no trabalho, a causa mais freqüente de aposentadorias precoces e acidentes no trabalho e a oitava causa para concessão de auxílio doença pela Previdência Social (Vaissman, 2004).
No âmbito do trabalho, as organizações vêm despertando seus interesses para o desenvolvimento de estratégias e implantação de programas preventivos ao uso indevido do álcool e outras drogas. O que motiva estas ações são as conseqüências negativas trazidas à saúde do trabalhador e à sua produção, absenteísmo que guarda uma relação direta com o consumo de álcool e a qualidade de vida do trabalhador.
Pode-se então considerar o alcoolismo como um problema nas organizações, e suas conseqüências podem ser percebidas observando-se os seguintes aspectos no comportamento dos trabalhadores (Vaissman, 2004):
o Absenteísmo;
o Acidentes de trabalho;
o Acidentes de trajeto;
o Queixas diversas em relação à saúde;
o Aumento de falhas na execução das tarefas;
o Redução da produtividade;
o Conflitos com colegas, superiores e clientes.


Condições de Trabalho que Favorecem o Desenvolvimento do Alcoolismo:


Em um estudo de caso, Nassif (2002) levantou algumas hipóteses sobre como a organização e as condições de trabalho podem contribuir para a incidência e a prevalência dos quadros de dependência química entre trabalhadores. Suas hipóteses são:
ü características específicas da personalidade do alcoolista: dependência psíquica, capacidade insuficiente para o contato interpessoal e intolerância grande frente às frustrações;
ü frustração na escolha profissional;
ü pressão social para beber existente entre os trabalhadores: a bebida então facilita os contatos interpessoais ou atua como forma de reconhecimento e introdução no círculo social;
ü especificidades do trabalho: atividades que oferecem riscos, inadequada divisão de tarefas, mau relacionamento com supervisores hierárquicos;
ü jornada de trabalho: períodos de ociosidade, trabalho em horário noturno; atividades geradoras de emoções: como raiva, medo, frustração, tristeza, ansiedade, vergonha, que podem funcionar como sinalizadores para a ingestão de bebidas;
ü significado social da profissão: que trazem sentimento de vergonha e desqualificação.
Resumindo, os fatores de risco ligados ao trabalho podem ser inerentes à especificidade da ocupação. Às condições em que o trabalho é efetuado, ao tipo de agentes estressores e como eles atuam física e psicologicamente no trabalhador. E, por outro lado, existem as características e a vulnerabilidade da personalidade diante do ambiente de trabalho que favorecerão ou não o uso abusivo.

Programas de Prevenção e Recuperação do Alcoolismo nas Organizações:


Edwards (1995) afirma que nos últimos anos tem havido um interesse nos benefícios múltiplos que podem resultar tanto para o empregador quanto para o empregado, da implantação de programas de alcoolismo nos locais de trabalho. A importância de programas de alcoolismo em empresas deve ser tratada como saúde global do indivíduo, e ainda observando-se que prevenir e tratar problemas de saúde diminui custos e melhora a produtividade.
É importante reconhecer as dificuldades que acompanham o atendimento a dependentes químicos, especialmente em empresas. O atendimento a usuários de drogas suscita múltiplos problemas, de ordem biológica e médica, psicológica, social, jurídica e ética. Nos locais de trabalho acrescentam-se a isso as estigmatizações e preconceitos devido às conotações negativas relacionadas à dependência do álcool, diminuindo a procura pelos serviços oferecidos, bem como dificultando a continuidade do tratamento.
Verifica-se que muitos programas não atingem os extratos mais elevados na hierarquia, apenas o trabalhador menos qualificado, sujeito a sanções disciplinares. Além disso, a tendência cultural alcoolizante deve ser também considerada ao se elaborar um programa. Não pode ser abordado do ponto de vista de um ideal moralizante. Os programas são de grande importância para as organizações preocupadas com a saúde de seus trabalhadores e com o bom desempenho de suas atividades.