sexta-feira, 8 de maio de 2009

ALCOOLISMO UMA DOENÇA SOCIAL E FISICA !!

O Alcoolismo vem sendo estudado, abordado, discutido e tratado em muitos lugares e de variadas formas. Porém ainda há muito a ser feito para enfrentar este problema que afeta, direta ou indiretamente, milhões de pessoas. Durante o século passado, esse problema apareceu com várias faces, sendo visto inicialmente como algo incontrolável e de solução difícil. Decorreria, a princípio, de um problema de caráter. Depois, de algo que poderia ser enfrentado através da mútua ajuda. Até que a ciência e os órgãos oficiais (associações médicas) a partir da década de 50  e finalmente a Organização Mundial de Saúde, assumiram a responsabilidade de declarar o alcoolismo como uma doença. Acrescentavam tratar-se de uma doença progressiva, incurável e fatal.  

Aos poucos os vários aspectos da doença alcoolismo foram sendo catalogados e a classificação internacional de doenças já apresenta vários códigos através dos quais os médicos podem diagnostica-la. Trata-se de doença progressiva, porque ela vai se instalando lentamente no indivíduo durante fases. Incurável, pelo fato de não ter sido descoberta nenhuma cura; ela é tratável, pois existem formas de enfrenta-la. E é fatal, pois leva à morte de várias formas. Enquanto doença progressiva, o alcoolismo tem três fase: a da adaptação, a tolerância e a dependência.

Os estudiosos do assunto são praticamente unânimes sobre isso. Dizem que a adaptação é aquela fase na qual o indivíduo tem os primeiros contatos com a bebida alcoólica, gosta do seu efeito, principalmente porque desinibe, e passa a usar com freqüência. Em seguida vem a fase da tolerância, na qual o organismo “tolera” muito álcool. A pessoa bebe muito e quase não se embriaga. São os casos daqueles chamados “esponjas”. Nesse período o organismo realmente consegue absorver muita bebida sem que os efeitos sejam tão rápidos. Por fim, a fase da dependência é aquela na qual o bebedor não consegue viver sem a bebida e passa a usa-la compulsivamente.

CONSEQUÊNCIAS

Até aqui vimos que o alcoolismo é uma doença. Enquanto doença, ela tem conseqüências para indivíduo, que vão desde as doenças físicas às mentais. Levam o alcoólatra a internações e tratamentos dos mais variados, desde a desintoxicação até à conscientização de que têm um problema para além da embriaguez. São formas de enfrentar alguns aspectos da doença, a começar pela chamada “Negação”, que é a forma mais comum a todos os alcoólatras de tentarem esconder o problema. Eles tentam sempre justificar a bebida imoderada, enquanto podem e até quando não têm mais como esconde-la.

Um alcoólatra na ativa cria constrangimentos, problemas e desentendimentos no ambiente de trabalho, pois o alcoolismo é responsável por alto índice de absenteísmo, já que a falta ao trabalho decorrente das bebedeiras é muito comum. Da mesma forma que os acidentes de trabalho têm forte ligação em alto percentual com o beber imoderado dos empregados. Até o final do século passado, havia uma tendência do Poder Judiciário a proteger o alcoólatra, determinando que as empresas dessem pelo menos uma chance de tratamento, para poder demitir por justa causa. Mas agora percebe-se uma tendência da Justiça do Trabalho a confirmar o direito das empresas de demitir o empregado por causa de embriaguez eventual ou em serviço.

Mas a doença alcoolismo tem um alcance tão grande, que leva o indivíduo a enfrentar também problemas graves na sociedade, a partir de situações de violência, acidentes e até ações criminosas. Também aí as estatísticas são fortes e demonstram quão grande é a freqüência de casamentos desfeitos, homicídios, brigas, depredações e acidentes de todos os portes, provocados por pessoas embriagadas. O resultado é que a sociedade finda tendo de pagar a conta, pois cabe a ela garantir o hospital para atender às vítimas, o judiciário para dirimir as querelas, a polícia para agir em muitas ocasiões e a previdência social para fazer também a sua parte.

ESTRAGOS

Um levantamento realizado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo constatou que cerca de 15% da população brasileira é alcoólatra. O coordenador do grupo, Arthur Guerra de Andrade, afirma que o Brasil gasta 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano para tratar de problemas relacionados ao álcool, que variam desde o tratamento de um dependente até a perda da produtividade por causa da bebida. Já a indústria do álcool no País movimenta 3,5% do PIB. "O País gasta, para tratar problemas provocados pelo álcool, o dobro do que recebe pela produção da bebida", segundo Andrade. "Não há nenhum país onde essa avaliação foi feita que ganhe mais do que perde com o álcool, mesmo considerando os grandes exportadores mundiais de bebida."

Por outro lado, a mais recente estatística da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) mostra que aumentou o número de estudantes brasileiros que consomem álcool na adolescência. Em todo o país foram entrevistados 48.155 jovens na faixa etária até os 18 anos, e 81% deles respondeu já ter experimentado algum tipo de bebida alcoólica. Existe ainda um documento da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) revelando que nos anos 70 a iniciação alcoólica se dava entre jovens de 14 e 15 anos. Hoje, a faixa etária para os primeiros goles teria caído para 12 e 13 anos.

A OMS e o Banco Mundial alertam sobre a necessidade de abordar os problemas relacionados ao consumo de álcool através de uma perspectiva de saúde publica. Os dados indicaram que o impacto do consumo de álcool não pode ser medido apenas através das estatísticas de mortalidade por dependência do álcool ou cirrose alcoólica. O álcool é fator contribuinte para doenças e mortes por mais de 60 condições listadas no CID (Código Internacional de Doenças). Explicam que o consumo excessivo de álcool está relacionado a mortes e internações por lesões intencionais e não intencionais: violência, quer seja doméstica, contra terceiros, em acidentes de transito, e afogamentos, suicídios, queimaduras e outros. Tais problemas vitimam jovens e adultos jovens, principalmente.

Outras estatísticas da ABEAD relatam que a associação álcool e alcoolismo é responsável por 75% dos acidentes de trânsito com mortes; 39% das ocorrências policiais, e constitui-se na 3ª causa de absenteísmo, respondendo por 40% das consultas psiquiátricas no Brasil.

Além disso tudo, dados do Ministério da Saúde do Brasil, apresentados pelo Datasus, demonstram que no período (1993-1998) os Transtornos Mentais foram a 4ª causa de internação hospitalar, sendo suplantada apenas pelas internações por problemas respiratórios, circulatórios e dos partos. Dentre as 426.602 internações do ano de 1998, a proporção de pessoas com Transtornos Mentais devido ao álcool foi de 20,6%. 

TRATAMENTO

O tratamento do alcoolismo tem sido feito em clínicas, hospitais psiquiátricos, centros de atenção psico-social e unidades de tratamento de alcoolismo. Para lá os alcoólatras são encaminhados e passam por desintoxicação e tratamento terapêutico que abrem o caminho para a abstinência. Mas não basta este período para garantir que o cliente fique afastado do álcool. Além disso, falta ao poder público uma política que realmente assegure oportunidade de tratamento e acompanhamento a todos os que necessitam, na medida em que o problema vem se agravando devido à disseminação cada vez maior do hábito de beber em nossa sociedade.

Apesar de todos os avanços da ciência, a única forma eficiente de enfrentar o alcoolismo praticada nos dias atuais é a abstinência; mesmo que ela esteja revestida das mais variadas formas: hospitalização, convivência em comunidades, grupos de mútua ajuda, conversão religiosa ou qualquer outra. A suspensão do uso do álcool como forma de resolver o problema teve muitos momentos históricos. Mas esta forma só veio a obter sucesso mesmo quando Alcoólicos Anônimos, a partir de 1935, começou a prática de compartilhar os problemas, através das suas reuniões. Tanto que tenho ouvido vários médicos confessarem que existe um momento em que a medicina não tem mais o que fazer e não sabem muito bem por quê, mas têm convicção de que a solução é encaminhar o cliente para o A.A.

MÚTUA AJUDA

Alcoólicos Anônimos utiliza um método chamado de 12 Passos para a recuperação, através do qual o alcoólatra aprende a conviver com a sua doença, sem beber. Tudo começa com o primeiro passo, sem o qual nada é possível na recuperação do dependente. Diz o Primeiro Passo: “Admitimos que éramos impotentes perante o álcool; que havíamos perdido o domínio de nossas vidas”. Como se sabe, ninguém gosta de perder. Mas para ingressar no A.A. tem de admitir que foi derrotado pelo álcool. Dali em diante passa a ficar vigilante para não beber, lembrando sempre do lema “Evite o primeiro gole”. Em A.A. nada é obrigado; até evitar o primeiro gole é uma recomendação e não uma imposição. Quem não evitar vai voltar a beber e enfrentar novamente os mesmos problemas que todo alcoólatra enfrenta na ativa.

Os doze passos são vivenciados através de reuniões e ali os membros de A.A. afirmam que a freqüência às reuniões é fundamental para a recuperação. Por outro lado, o funcionamento dos grupos de A.A. é possível graças à aplicação de outros doze princípios denominados “Doze Tradições”, pelas quais os grupos conseguem viver em harmonia. Utilizam também outros princípios chamados “Doze Conceitos para os Serviços”, através dos quais os membros da irmandade passam a ajudar em todas as tarefas de manutenção, e condução dos trabalhos, como forma de demonstrar a gratidão pelo organismo que lhes abriu as portas e proporcionou a sobriedade. Esses 36 princípios, divididos em três grupos, são chamados de Três Legados, pelo fato de terem sido deixados pelos membros fundadores da Irmandade – Bill Wilson e Bob Schmidt.

A literatura de Alcoólicos Anônimos é muito vasta e aqueles Doze Passos foram tornados de domínio público, o que possibilitou o seu uso por outras entidades de mútua ajuda, como Narcóticos Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Fumantes Anônimos e muitos outros. Além desses documentos, o A.A. tem o chamado Livro Azul, que foi sua primeira publicação e continua atual, disponível no mundo inteiro e Viver Sóbrio, livro que mostra de forma prática como se manter abstêmio.

         Uma coisa interessante no A.A. é que a entidade não recebe nenhuma ajuda de fora. Somente os membros podem contribuir para manutenção da irmandade, através de coletas que são feitas a cada reunião e que se destinam ao pagamento de despesas com aluguel, cafezinho, água, luz, telefone e demais gastos. A.A. não é ligado a nenhuma seita ou religião, não tem ligações políticas, não participa de nenhuma controvérsia. Cumpre apenas o que chamam de propósito primordial: ajudar outros alcoólatras a atingir a sobriedade. Toda essa literatura e esse trabalho de recuperação tem algo determinante e sine qua non: o desejo sincero do alcoólatra de parar de beber. Enquanto ele não tomar essa decisão, nada pode ser feito. Tomada a decisão, entretanto, a recuperação é possível.

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